Ele mal pôde acreditar quando recebeu o telefone dela. Olhar para o celular e ver que era ela ligando fez ele hesitar. Não porque ele não gostou de tal atitude, muito menos porque gostou demais. Simplesmente era algo que ele não esperava.
Ela nunca foi do tipo de telefonar pras pessoas, e ele sabia disso. Ainda mais pra ele. Não que isso fosse um problema, até porque a intimidade deles dois já existiu. Mas a história deles acabou antes de começar, sem nenhuma razão. Sem nem ao menos alguém dizer "chega".
Acabou como acaba um vidro de maionese, e tem outro fechado prestes a ser usado. Ninguém percebeu, ninguém sentiu falta. Ninguém nem sequer lembrava. E aquele telefonema fez mudar os pensamentos dele em relação à história. Em relação ao vidro de maionese. Voltando a história um pouco, vai ver perceberam que acabou a maionese e colocaram outra em seu lugar. De uma marca diferente, nem melhor, nem pior. Quem sabe?
Ele deixou esse breve pensamento de lado e atendeu o telefone, ainda sem saber o que esperar daquela ligação. Vai ver não era ela. E mesmo se fosse, por que aquele pensamento veio à tona? Por que lembrar do que aconteceu lá atrás, ou melhor, do que deixou de acontecer? Por que, depois de tanto tempo, ele se pegou pensando nisso novamente? Achou melhor parar de pensar e ouvir o que ela tinha a dizer.
Aquela voz doce não mudou em nada. Não que ele achasse que a voz dela teria mudado em alguma coisa. Tempo se passou, mas não tanto assim. Mas o que ele percebeu foi que o que não mudou foi o que aquela voz fazia ele sentir. Como assim? Como depois de tanta gente, tantas vozes, aquela permanecia do mesmo jeito dentro dele? E o que era curiosidade se tornou nervosismo. O que será que aquela voz, que me fez pensar em tempos atrás, queria comigo?
Ela queria vê-lo. Saber como as coisas iam, sentia saudades. Nem ela ao certo sabia do que, mas sentia. E ele percebeu que também. Marcaram de se ver naquele dia mesmo, perto da casa dele, como era de costume.
Ele não sabia o que pensar, o que sentir, nem o que vestir. Mas alguma coisa estava diferente dentro dele. Foi ela que fez a diferença na vida dele numa época que ninguém se importava. Só ela. Ela foi a maionese que deu gosto a vida dele. Mas que passou. Sem ele perceber, ela já não fazia parte da rotina dele. E lá estava ela novamente em sua vida, e todo aquele sentimento voltou. Ele nunca soube se era algum sentimento por ela, mas ela o fazia bem. E ele se esquecera disso.
Chegou no lugar onde marcaram mais cedo, porque nao queria deixá-la esperando. Ou talvez porque quisesse vê-la mais do que imaginava. Era uma mistura de pensamentos que ele não conseguia entender, ele só precisava vê-la. Passaram-se 10 minutos e ela nao aparecera. Já tinha dado a hora marcada, e ele ficou agoniado.
"Será que ela não vem? Será que desistiu? Por que ela nao me liga avisando, pelo menos?"
E quando ele pensava em ir embora, sentindo um pouco de raiva dela, ele a viu.
Ela não era a mesma menina que ele conhecera tempos atrás. Sim, a menininha cresceu. Alguma coisa de diferente nela o fez ficar com frio na barriga. Como se fosse a primeira vez. Como se ela fosse inatingível, como se ele nao pudesse alcançá-la. Ela não era a garota mais bonita que ele já viu. Existiam garotas lindas, mas ele não sentira a mesma sensação. Sensação a qual ele nunca experimentara.
Ela foi se aproximando distraída e atrasada, e ele não conseguia desviar o olhar. Aquilo era estranho, mas ao mesmo tempo bom.
Os olhos deles se encontraram, ela sorriu. O coração dele bateu de uma forma inesperada. "O que está acontecendo aqui?" - pensou ele.
Sem conseguir desviar os olhos e controlar a batida do coração, ele falou um oi meio sem jeito e sorriu de volta.
Ela o abraçou e sussurrou em seu ouvido, com aquela voz que ele jamais vai esquecer:
"Senti sua falta"
continua...